Sobre a etiologia das dificuldades de audição em ambientes ruidosos, apesar de audiogramas clinicamente normais

feb 2023

Muitas pessoas com dificuldades para acompanhar conversas em ambientes ruidosos apresentam audiogramas "clinicamente normais", ou seja, com limiares abaixo de 20 dB entre as frequências de 0,1 a 8 kHz. Este artigo de revisão resume as possíveis causas dessas dificuldades, explorando abordagens consolidadas e novas em psicoacústica e eletrofisiologia.


Déficits na periferia auditiva podem ocorrer mesmo quando os limiares permanecem em torno de 0 dB, sendo ainda mais prováveis quando atingem entre 10 e 20 dB HL. Ao expandir a audiometria além de 8 kHz, podem ser identificados sinais precoces de trauma acústico induzido por ruído na vulnerável base da cóclea. Esses sinais podem indicar perdas "ocultas" em frequências mais baixas que comprometem a percepção da fala em ambientes ruidosos.


As dificuldades auditivas também podem ser consequência de um processamento auditivo central deteriorado, devido a lesões que afetam o tronco encefálico ou o córtex auditivo. Além disso, essas dificuldades podem estar associadas a padrões anômalos no input auditivo durante períodos sensíveis ou mesmo na idade adulta.


Esses transtornos de processamento auditivo precisam ser diferenciados de déficits linguísticos (cognitivos) e de problemas de atenção ou memória de trabalho que não são específicos à modalidade auditiva.


Um diagnóstico mais preciso das causas das dificuldades de escuta em ambientes ruidosos pode levar a melhores resultados nos tratamentos, por exemplo, otimizando os processos de treinamento auditivo para os déficits específicos de cada paciente.


Referência: 


Pienkowski M. (2017). On the Etiology of Listening Difficulties in Noise Despite Clinically Normal Audiograms. Ear and hearing, 38(2), 135–148. https://doi.org/10.1097/AUD.0000000000000388