A importância do processamento auditivo de domínio geral na aprendizagem da pronúncia de um segundo idioma.

Jun 2021

Na psicologia cognitiva, o processamento auditivo foi amplamente investigado e sugerido como base para a aquisição da linguagem (língua materna; L1) durante a infância. O processamento auditivo inclui a decodificação, memorização e proceduralização das características de tempo e frequência dos sons. Embora diferentes tipos e combinações de informação auditiva sejam processados em níveis específicos durante diversas atividades de aprendizagem (por exemplo, linguagem, fala, música e emoção), elas essencialmente se baseiam em uma etapa inicial de processamento auditivo de domínio geral (por exemplo, representação precisa de detalhes espectro-temporais).


Como o canal auditivo é a principal fonte de entrada de informações para a maioria dos aprendizes, o passo inicial para adquirir uma linguagem envolve a conversão de informações acústicas em informações linguísticas disponíveis para posterior codificação fonológica, lexical e morfossintática. Estudos anteriores mostraram uma associação entre as habilidades de processamento auditivo e a velocidade de aquisição de habilidades linguísticas em L1 (consciência fonológica, habilidade de leitura e escrita).


Este estudo investiga uma visão teórica emergente segundo a qual as mesmas faculdades sustentam a aprendizagem da pronúncia de um segundo idioma (L2) após a puberdade. Falar um segundo idioma geralmente revela acentos estrangeiros, especialmente quando o idioma é aprendido após a puberdade. Em comparação com outras dimensões da linguagem (por exemplo, léxico-gramática), alcançar uma pronúncia semelhante à de um falante nativo é extremamente raro. A aprendizagem de uma L2 após a puberdade apresenta grande variabilidade individual. Essas diferenças não podem ser explicadas apenas pelo tempo dedicado à prática do segundo idioma, já que alguns aprendizes demonstram maior habilidade perceptiva e cognitiva.


Neste estudo, participaram 100 sujeitos bilíngues tardios (polaco-inglês), com diferentes históricos em relação à idade e experiência. Investigou-se sua capacidade de representar diversas características dos sons por meio de medidas comportamentais e neurofisiológicas. Assim, sua história pessoal e perfil de processamento auditivo foram comparados com diferentes dimensões de sua competência na pronúncia em L2.


O processamento auditivo dos participantes foi avaliado em três habilidades diferentes: a) discriminação de diferenças sutis no sinal acústico; b) codificação de diferentes dimensões acústicas a nível subcortical; e c) reprodução de novos padrões rítmicos. O processamento subconsciente foi medido pela resposta de seguimento de frequência (FFR) da sílaba sintetizada /da/.


A precisão na pronúncia da L2 (entoação, sotaque, velocidade e substituição, omissão ou inserção de consoantes ou vogais) foi avaliada por quatro falantes nativos e especialistas em inglês. A fluência também foi avaliada.


Os resultados mostram que as diferenças individuais na pronúncia de L2 entre os participantes se baseiam tanto na idade de início da aprendizagem, na experiência (tempo de residência no país estrangeiro), quanto no processamento auditivo (habilidade de reprodução temporal, discriminação explícita das características do som e codificação subconsciente do som). Assim, o estudo apoia a teoria emergente de que as mesmas faculdades de processamento auditivo sustentam a aprendizagem ou aquisição de segundas línguas.


Referência:


Saito, K., Kachlicka, M., Sun, H., & Tierney, A. (2020). Domain-general auditory processing as an anchor of post-pubertal second language pronunciation learning: Behavioural and neurophysiological investigations of perceptual acuity, age, experience, development, and attainment. Journal of Memory and Language, 115, 104168.